Apóstolo Rina, líder da Bola de Neve, rejeita rótulos que imprensa usa para se referir à sua igreja Até onde se sabe, bolas de neve crescem conforme descem. No entanto, de uns quinze anos para cá, uma comunidade evangélica está desafiando a lei da gravidade. Cada vez maior e mais conhecida, a igreja Bola de Neve — ou Bola de Neve Church, como se apresenta — está em plena ascensão, e nesse movimento carrega um público eclético, ainda que predominantemente jovem. São milhares de pessoas que se identificam não apenas com a informalidade da liturgia, mas também com o próprio pastor. Afinal, Rinaldo Luiz de Seixas Pereira — o “apóstolo Rina” da galera —, está longe de espelhar a imagem de um líder conservador. “Gosto de nadar, correr, gosto de musculação, de wakeboard e, quando possível, posso ser encontrado com minha esposa pegando onda em alguma praia do litoral brasileiro”, garante. Mas se engana quem pensa na Bola de Neve como uma comunidade riponga. Rina rejeita até o conceito de “igreja temática”. “Temáticos são os parques, bares, restaurantes”, diz. De fato, classificar a Bola de Neve como “igreja de surfistas” é uma demonstração de falta de conhecimento. A igreja, que mantém templos em países como Peru, Estados Unidos, Austrália, Inglaterra, Rússia e Índia, não se encaixa mais nesse rótulo, segundo Rina. Aos 35, o paulista com formação em Marketing e Teologia e pós-graduação em Administração falou à revista....
A igreja Bola de Neve já tinha essa freqüência predominante de jovens desde o início ou essa característica se formou aos poucos? A Bola de Neve é uma igreja voltada a todos os públicos. No entanto, talvez pelo estilo mais descontraído, mais leve, atraiu desde o início um publico mais alternativo, cansado das formalidades do dia-a-dia, que se identifica com a liberdade de culto e expressão somada à sede de Deus, de viver em santidade. No início havia muito mais jovens, que aos poucos trouxeram seus pais, avós, casaram, tiveram filhos. A tendência do jovem à contestação e à rebeldia cria problemas para a sua liderança? O jovem se rebela porque se sente rejeitado. Tudo o que rejeitamos se volta contra nós. Se uma geração se sente rejeitada pela sociedade, igreja, sistema, a tendência é a revolta e a aversão. Se essa mesma geração é amada, acolhida, compreendida, discipulada, temos um exército capaz de transformar o mundo. A partir de quando a BN se tornou “temática”, ou seja, se identificou com a comunidade e a filosofia do surfe? Creio ser esta uma pergunta que nos ajuda a desmistificar alguns rótulos. A Bola de Neve não é uma igreja temática. Temáticos são os parques, bares, restaurantes. A Bola de Neve é uma igreja centrada em Deus e voltada às necessidades desta geração. De mais ou menos 10 mil na igreja-sede, em São Paulo — só uma referência —, nem mil surfam. Se há alguns elementos que fazem menção ao esporte — como o púlpito ser uma prancha —, é mais obra do acaso do que qualquer outra coisa. Na verdade, a mídia se encarregou de nos rotular assim pelo fato de muitos pastores e membros da igreja surfarem. A real é que não foi a igreja que se identificou com a comunidade do surfe, mas a comunidade do surfe, entre muitas outras, que se identificou com a Igreja. Há surfistas, triatletas, marombeiros, skatistas, lutadores, pessoas que não praticam esporte nenhum, há de tudo. Como foi sua chamada para o ministério? Nasci em berço cristão, numa família batista. Aos cinco anos, aceitei Jesus na igreja que meu tio pastoreava, o pastor Odilon do Santos Pereira. Infelizmente me desviei na adolescência. Voltei com vinte anos, disposto a gastar e desgastar minha vida em prol do Evangelho. Com 28, fomos enviados para iniciar a igreja. Quando fui anunciar a renúncia a minha formação acadêmica e minha carreira profissional ao meu pai, ouvi uma história que explica tudo. Ele conta que, em 1972, meu parto foi muito difícil, durou doze horas, corria risco de morte, e ele, em oração, me consagrou a Deus: “Senhor, se ele nascer, é teu!” Minha chamada foi determinada aí, creio. Há uma certa tendência, principalmente entre o público não cristão, de olhar a BN como uma igreja exótica. Em que medida isso atrai e/ou intimida as pessoas? O público não cristão é um público que olha para igrejas evangélicas com preconceito e desconfiança; com vontade, às vezes, de andar com Deus, mas medo de ser engessado por uma doutrina. O que intimida as pessoas são os escândalos, o fanatismo, o extremismo. Se Deus tem usado esta certa visibilidade para atrair e despertar interesse naqueles que não viram no Evangelho opção de espiritualidade, que ele seja louvado por isso. Paradigmas estão sendo quebrados e vidas estão sendo salvas. Existe um conceito de culto cristão como uma cerimônia de quietude, contrição e certa austeridade. Pode se dizer que a BN segue na contramão desse conceito? Um culto a Deus é uma experiência viva, poderosa, marcante, não um encontro entre homens ou de homens com um pregador. Então, o que não podemos é padronizar a forma de culto e de adoração a Deus e tentar institucionalizar o mover do Espírito Santo. Nem de longe quero ser uma Mical censurando Davi. No entanto, há momentos em que, no absoluto silêncio, temos as mais poderosas visitações do Espírito Santo, em total contrição. Confio no equilíbrio que o Espírito de Deus nos dá, na ordem e decência. Ainda sobre essa questão litúrgica, o senhor acha que faltam os elementos de alegria e diversão na adoração convencional? Não, acho que Deus levanta igrejas para alcançar todo tipo de pessoa na forma mais humana de elas serem. Há pessoas que só são salvas porque existem igrejas convencionais, de liturgia formal, enquanto há outras que só se convertem porque se identificam com um culto avivado. Por que isso acontece? Seria a herança evangélica que recebemos de missionários conservadores? Obviamente, há uma grande influência conservadora e tradicional que ainda molda muitas Igrejas no Brasil, mas se os crentes ali estão felizes, glória a Deus por isso. Mas como Deus age de muitas maneiras, no mundo inteiro temos visto uma revolução de quebra de conceitos hereditários. Olhando a questão pelo ângulo inverso, a informalidade não compromete a sacralidade do culto? Informalidade não pode ser confundida com falta de responsabilidade e profundidade. Descontração não é sinônimo de oba-oba. Sem reverência, temor e tremor, não há culto a Deus. Deus é Santo, o culto é sagrado. O acesso é irrestrito, mas nunca esquecendo de que ele é Deus e nós, homens. Por conta da informalidade litúrgica, surgem sempre comentários sobre os cultos da BN. Um deles, por exemplo, falava sobre o uso de palavrões durante os momentos de oração pentecostal. Isso é lenda ou chegou, de fato, a acontecer? Entre todas as imbecilidades ditas sobre esta Igreja, sem dúvida essa foi a maior e mais maldosa. Não esperávamos agradar a todos e não fomos chamados para a autojustificação. Infelizmente, muita gente tira conclusões precipitadas e equivocadas sobre o trabalho. Não podemos esquecer de que há um juiz, e que antes do veredicto daqueles que insistem em acreditar que foram chamados para julgar, se faz necessária uma visita de reconhecimento. Quem sabe a opinião não muda? Essa é obra de Deus, e não de homens. O senhor acredita que igrejas como a BN estão mudando o cenário da igreja brasileira, principalmente em termos de liturgia? Não só em termos de liturgia, mas de estrutura. O maná de ontem serviu para ontem. A unção de ontem não pode ser reproduzida hoje, o vinho novo só pode ser deitado em odres novos. Se um líder ou uma igreja perde a sensibilidade e a disposição para ouvir e obedecer à voz de Deus, perde a visão e se torna odre velho, pois os planos de Deus não podem ser frustrados. Se nós (todos os que estamos sendo levantados) deixarmos de fazer o que Deus nos mandou, ele levantará outros que darão cabo da missão. Deus está mudando o cenário da igreja brasileira porque ele decidiu avivar esta nação. É possível se pensar numa igreja mais “brasileira”? Não penso em sermos uma igreja mais brasileira, antes de sermos brasileiros somos cidadãos do Reino. Penso em sermos uma igreja do Reino que considera a cultura brasileira. Por que o uso de termos em inglês, como “Bola de Neve Church” e “In God we trust”? Na verdade, in Jesus we trust! Num mundo globalizado, expressões em inglês são comuns. Você usa o computador com um mouse, não com um rato; escuta música no CD player, não no “tocador de CD”. Como é que você pronuncia “MTV”? A BN é alvo de críticas? De quem elas partem? Temos bons relacionamentos com a maioria dos líderes evangélicos da nação, procuramos construir pontes, respeitar a diversidade e zelar pela unidade, pois sem ela não há amor. E se não conseguirmos cumprir o segundo mandamento, o que vamos pregar em nossos púlpitos? Se há críticas, nunca foram feitas diretamente, a maioria por pastores desavisados que, pelas costas, difamam o que não conhecem ou entendem, ou por pastores acovardados que, temerosos por um êxodo de seus jovens, atacam para se proteger, mas esquecem que, se o pasto está bom, a ovelha não corre para o pasto do vizinho. Lembrando que nossa modalidade preferida nunca foi e nunca será pesca em aquário, mas pesca submarina, para alcançar os que estão lá no fundo. Quando alguém vem de outra igreja querendo congregar no Bola, todos os pastores têm a direção de pedir que essa pessoa busque aconselhamento com seu pastor e, se ele concordar, que venha. Algumas celebridades freqüentam igrejas evangélicas fora do convencional. O que as atrai a igrejas como a BN, por exemplo? As celebridades precisam de Deus como qualquer ser humano, e serão atraídas à igreja onde se sintam à vontade, sem tietagem e uso de sua imagem para promoção do pastor.
Fonte: Revista Igreja.